Não basta apenas dizer: sou filho de Barcelos, moro nessa terra; mas não é tão fácil trabalhar por ela, defendê-la, exigir os direitos que lhe são devidos; lamentar o que lhe foi negado em termos de crescimento ao longo de sua história, por outro lado, alimentar sonhos de esperança , sonhos de progresso e bem-estar para todos.
Somos uma cidade bicentenária, uma cidade que ainda não cresceu na valorização dos seus filhos natos. A cultura de nossa terra é aquela que ainda não aprendeu a reconhecer a inteligência, os talentos, os dons e as qualidades dos filhos que se tem. Ao longo desses 256 anos, muitos dos nossos filhos ilustres foram deixados no esquecimento, suas asas foram-lhe cortadas quando queriam alçar vôo no momento certo, no tempo exato para servir mais e melhor ao nosso povo.
Muitos deles, jovens, e aqueles de idade avançada, frustrados por querer servir a cidade de Barcelos, e as portas das oportunidades foram-lhes fechadas, negando-lhes vez e voz. Muitos dos nossos filhos foram deixados de lado ao longo desses anos...Não culpemos as autoridades, culpemos a nós mesmos pela triste formação cultural e educacional recebida e tornada assim vitalícia em nossa cidade.
Por: Frank Garcia
Barcelos na NET fará homenagem a alguns filhos de Barcelos criando a Série “Filhos Ilustres”, no qual faremos uma pequena biografia de Barcelenses que contribuíram com nosso município. Começando com o Sr. Vadilson Gonçalves. É claro que muitos outros filhos ilustres continuarão surgindo, pois são eles, profissionais em qualquer área que fazem deste Município de Barcelos um dos maiores do Amazonas. Desde já pedimos a ajuda aos Barcelenses e amigos de Barcelos que colaborem enviando fotos e materiais para completar o acervo biográfico do Vadilson.
Para acessar o álbum completo clique no Slide abaixo:
Na margem direita do Negro, uma cidade, uma canção.
Porque devo ler este ensaio biográfico?
A cultura de um grupo representa suas ideias e valores, tornando-o característico e único. Osterman(1988)[1] define o termo cultura como “a soma total de sua linguagem, dialeto, pensamentos, ações e comportamentos que foram aprendidos e transmitidos através dos anos.” E transmitida através de suas gerações, a cultura barcelense à revelia, vai apresentando ao mundo seus representantes. Trato, em primeira pessoa, e sem o menor receio, o dever a mim incumbido de relatar um aspecto da cultura barcelense através de uma história de vida. Permeio entre a admiração pessoal e a conhecida significância de tal figura. Não há de confundir-nos, ele não é a personificação dessa cultura, entretanto é indispensável para que as próximas gerações a compreendam.
“Começando do início”
Começo pelo dia três de janeiro de 1974 quando, na cidade de Manaus, Basileu Ferreira da Silva e Valtina Gonçalves da Silva trouxeram ao mundo seu oitavo filho, sendo que a partir daquele mesmo ano sempre residiu em Barcelos, portanto barcelense nato. Em seus primeiros anos de vida Vadilson já dava sinais de sua veia artística, herdadas do pai que era músico. Sem mais delongas devo traçar a partir de então sua trajetória...
“Não chore não querida que este deserto finda/Tudo aconteceu e eu nem me lembro/ Me abraça minha vida, me leva em teu cavalo/Que logo no paraíso estaremos”. Foi cantando o estridente refrão da musica Romance no deserto, de Fagner que o jovem Vadilson Gonçalves da Silva emocionou familiares e amigos em um concurso de calouros realizado no Centro Paroquial de Lazer e Confraternização –CEPALC- recebendo o primeiro lugar. Vadilson tinha grande participação nas atividades culturais da cidade, bem como nas escolas São Francisco de Sales e Padre João Badalotti nas quais estudou. Em eventos como o aniversário do município era frequente como compositor de paródias memoráveis.
Cachaça e tira-gosto no fundo do quintal
O inicio da carreira de vocalista foi quando o barcelense Afonso Queiroz resolveu montar em 1990 a banda “Raízes da Terra” que tinha como integrantes: Chiquinho (teclado), Daniel Queiroz (baixo), Joãozinho (bateria) e João José (guitarra). Era a sensação daquela época, quem viveu sabe! Após o fim da banda formou o grupo “Revolução” somente com teclado e tinha como seu maestro o amigo Chiquinho, a dupla tocou por muitos anos. Mais tarde Vadilson ainda iria compor o grupo Itapuranga.
Atravessando gerações ainda fez parcerias com os maestros e amigos Joãozinho, Thales e Raimundinho, realizando bailes nas noites da cidade e em toda a região do Rio negro. Subir ou descer o rio nunca foi problema: em São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Novo Airão sempre teve reconhecida a sua importância artística.
E seu eu por acaso (ou não) perguntar qual o primeiro, único e eterno grupo de pagode de Barcelos? Ouço o coro ululante de Barcelenses a responder: Cachasamba, aah! Pois de uma brincadeira entre amigos, juntamente com o irmão Valmir Gonçalves, Vadilson foi um dos fundadores do grupo Cachasamba, no qual era percursionista e cantor. Unindo o útil, o agradável, talento, descontração, a cachaça e o samba...
O homem que balança o cardume Azul e Vermelho
No ano de 1995, primeiro ano que houve competição na festa de maior expressão cultural do município: o FESPOB - Festival do Peixe Ornamental de Barcelos, Vadilson foi o primeiro interprete do grupo Acará – Disco, campeão daquele ano.
A partir de 1998 começa a sua saga como cantor no seu peixe do coração, o Cardinal. Traçando uma longa história de dedicação, amor, muitos títulos e composições que entraram para a história, como a música “O mais Belo dos Cardumes”. Desde 1999 nunca deixou de ser executada um só ano no festival, levanta o cardume, uma espécie de “Vermelho” do garantido. No ano de 2008 mudou de função dentro do grupo defendendo o item de apresentador. Mais um talento desse barcelense, comprovado por não perder nem um ano no exercício do novo papel.
A ora e a vez da Cidade Porto
Em 2005 por força do destino Vadilson vai morar na cidade de Caracaraí, no estado de Roraima, levando seu talento e a cultura de seu município na bagagem. Entra também para história do lugar como um dos idealizadores do primeiro Festival Folclórico de Caracaraí, no que diz respeito à concepção musical. O evento tem como competidores os grupos Gavião Caracará e Cobra Mariana. A festa repercutiu em todo estado de Roraima atraindo muitos visitantes e olhares positivos da crítica. Outra festa de grande expressão na cidade é o carnaval. Vadilson é puxador do Bloco “Eu e Você” e já deu três títulos ao bloco cantando composições de sua autoria.
Como acadêmico do curso de turismo da Universidade Estadual de Roraima – UERR representou o Campus de Caracaraí no YAMIX, um Festival universitário de música que acontece na fronteira do Brasil com a Venezuela na cidade de Pacaraima, cantando a música de sua autoria “Cidade Porto: eterno encanto”, uma espécie de hino de Caracaraí.
Para não restar dúvidas nem dívidas...
Apesar de não residir mais em Barcelos, Vadilson está todo ano presente no FESPOB fazendo parte da apresentação do grupo Cardinal, contribuindo com o seu peixe e conseguintemente para a evolução da cultura barcelense. Vadilson não é a estrela que brilha sozinha, muitas delas aclaram o negro do rio e ilustram a cultura desse povo. Aguardo apreciação e findo o ensaio com a sensação de que muito ainda está por ser escrito.
Por Pricilla Conserva[2], baseado no relato pessoal de Vadilson Gonçalves.
[1] Eurydice V. Osterman é Professora de Música na Faculdade Oakwood, em Huntsville, Alabama. Obteve o doutorado em Artes Musicais pela Universidade do Alabama em 1988.
[2] Pricilla Conserva, professora, atriz, cineasta e acadêmica do curso de letras - língua e literatura portuguesa da UFAM.